As horas martelam-me olheiras
E as fontes latejam impunes.
Prometi amanhãs e atraso-me no hoje.
As pálpebras estremecem oráculos
De insónias inevitáveis.
Esboroa-se a caliça dos meus dias
Na velocidade da noite.
É quase hora de ti e eu sem saber de mim.
Se existir uma onomatopeia
Que me defina
Que se cale.
E os monótonos ruídos noctívagos
Que me espelham
Soltam fulgentes tons.
Bem os ouço,
Sempre aos pares
Como se eu fosse dois:
Eu e a sombra.
Ou a sombra e eu...
Ou eu apenas
Sombra.
Esta semente que me germina
Nas unhas negras da terra esgravatar
É de erva bravia,
Pois no meu corpo decomposto
No frio de um inverno alheio
Os vermes nada transformam.
É só veneno que em mim nasce
E tu a beberes do meu orvalho...
Por isso recuso chorar.
Dou um piparote na esquina,
Volto à rua.
Um riso de criança e um berro adulto.
As passadas apressadas dum cão vadio
E o olhar desconfiado dum gato.
Tudo é mansidão na pressa das horas.
As sombras que o pináculo projecta
Rasgam o sol de Inverno,
Como se até a isso a igreja se opusesse.
Não fumo o cigarro do velhote
Nem bebo o copo do outro,
Dolentes à porta do tasco.
Vejo-te subir a estrada.
Só isso importa.
Só isso importa...
Agora que o teu leito tem cova
Ali, mesmo a teu lado,
Já me posso ir embora.
Esse espaço não tem dono,
Não consta do registo predial.
Podes alugá-lo ou deixá-lo
Em pousio; ou cultivá-lo.
Estrume deixei eu bastante...
Espero que chegue pra dar rosas.
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