terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Gafanha Uma mão cheia de trigo E uma Rosa espinhela (na verdade um ataque a uma professora de português)!

1.
Quero furar-te o corpo
E beijar-te a alma;
Saciar os dedos e os lábios;
Ver cair o orvalho morno
E relaxar. Perdido
Por encontrar nos versos do teu poema
O “Guê” de gaivota
Que Vénus tem
E Apolo, longe das teorias actuais,
Indiferente, desconhece.

Desabrochei, Rosa.
Rosa tu e espinho eu;
Um rolo de arame farpado
Que cerca o tempo.
Isso, beija-me as farpas até à ferrugem;
Corrói este ouriço
Que o tempo empederniu,
Mas não te espantes se te amar de fugida
Como quem fuma um cigarro.

2.
Acordo com cabelos de vento
No vendaval dos lençóis.
Que amor foi este, assim tão bruto?
-Bruto?! Que malvadez a tua!
-Perdão, abrupto.

3.
E lá fora anda o mar
-Não fôra isto Gafanha-
E um búzio, algures,
-Daqueles que guardam cantilenas das ondas-
Espera mão de criança que o apanhe.
Não estivesse eu ainda no teu leito seria eu;
E aprenderia então todas as canções do mar
Para embalar teu sono perturbado.

4.
Agora as portas escancaradas
E o raio do sol a fazer entrar só sombras.
Está na altura de descer
A viela sombria até ao patamar do sono.

Depois de ti... não serei a mesma
porque volto ao que era.”

Foge de ti
Para poderes
Ir ter contigo.

5.
Arranca-me as vísceras,
Fura-me os olhos,
Incendeia os campos de trigo
E chama os bombeiros,
Uns que não saibam apagar fogos
Para que ardam as espigas.

Trago os olhos vomitados,
Desabridos na verborreia
E no travo do vinho tinto
Após a sardinha assada
Sem ter saltado à cachopa!
Maldita noite de Santo António!,
Malditos os fantasmas que pesam!
Maldita pátria de poetas
E de quem os não sabe dizer
Para os maldizer.

Foda-se! Arranca-me a língua!,
Este furúnculo corcovado
Que nem Lisboas anuncia;
Este órgão que não toca
E que se o fizesse
Seria por certo uma balada de Tom Waits
Após o décimo whisky,
Um maço de cigarros por harmonia
E o filho da puta do álcool a baixar a escala

Pronto. Estou calmo.
Tenho nas entranhas
-Na puta das vísceras que recusas arrancar-
Uma tranquilidade tranquila.
Tão tranquila como a palidez das janelas
Onde a geada traçou caminhos.

Vês?! Estou calmo.
Bucólico. Tenho o olhar aboiado e manso;
Até os cornos -que o cabrão do destino perdeu
E que a minha sorte fez cair -exactamente- na minha testa-
Arredondei para te não ferir.

Era capaz dum gin tónico
E ler deles um conto
Como xamane que lê nas résteas dum chá;
Ver futuros,
Acabadinhos de atropelar
Com um poema do Carneiro!
-Só para permanecer na linha dos cornos
Pois nem gosto do Sá.-

Vês?! E recomeço a perder a calma.
É essa tua proximidade e o caralho...
-Na verdade, esse também se intromete-
Que me chateia.
Vai-te embora, porra!
Sabes bem que sou indecente
Ao ponto de te querer expulsar da tua própria casa!

Ah, e roubei-te a cerveja
-Não aquela do Namora-
Foi a tua.
Mas não, não penses
Que foi pra te chatear;
Foi por ter pena dela.
Tadinha da cerveja, tão ao frio
A estas horas tardias em casa de quem não bebe.

Não, não é para te chatear,
Eu nem te chateio mais!
Agora tenho-me de volta,
Agora posso achincalhar-me,
Vergar-me à certeza de ser incerto,
Ao marulhar das ondas
Que são campinas de água
Sem o saberem,
Porque a merda dos compêndios
Não ensinam os poetas a falarem com o que os inspira.
Fingem-no, é certo!
Os vigaristas!
É por isso! Sempre por isso
Que nunca serei poeta,
Pois ando a falar às ondas.
Não a pregar aos peixinhos;
Isso é pasta de outro ministro.
Eu falo às ondas.
Elas são seiva do meu tronco,
Motor do meu baloiçar,
Embalo do meu sono rígido.
-Cala-te, caralho!, Não estou a falar de ti!

Agoram ficam suspensas as hastes
Da madrepérola chinesa
Numa espécie de dadaísmo
E eu a abanar folhetos de intelectualóide.
-Coitado de mim que nem sequer
Um teorema de Pitágoras
Em livro XXL tenho.-
Mordo as hastes, por raiva,
Mas o sabor das achas
Revela-me cerejeiras
E lendas de neve
Que um árabe práqui trouxe.
Porque há-de a minha terra
Ser antro de forasteiros?
(Porque eu sou-o).

6.
Vou para casa, juro!
Não pararei no tasco da esquina
Nem no outro mais ao lado;
Já vou embriagado de ti
E dos onirismos
Que afinal são diabólicos seres.
Merda.
Tenho a sensação de ter dado cabo dos sonhos.
Dar-lhes-ei uma dentada se os caçar cá por perto;
Como se acreditasse que algo
Ou alguém -de livre vontade-
De mim se aproximaria.
Bom, fá-lo o teu cão.
Mas, coitado, se calhar num lapso de epilepsia.

7.
E este estúpido ressequimento...
Não, não é ressentimento.
É esta lixa na boca
E o esgoto na garganta.
Este couro mal curtido
E o cheiro aos curtumes
Que enevoa as vistas.
Sim, porra, aquelas que servem para isso mesmo!
Ou conheces outras?! Eu não!!!
Eu que conheço tanta coisa...
Como aquele livro de histórias
Que um dia meu pai queimou
E que bailou arcos-íris
Como a querer mostrar-se colorido,
O pobre...
Via-se bem que fôra meu;
Uma carreirada de letras pretas
Numas maltratadas folhas brancas
-Cheias de orelhas de burro-
A armar-se em multicolor
Como se fosse um do Walt Disney.
Ardeu ali,
Na fogueira da Inquisição
Sem ser inquirido nem arguido,
Mas como se fôra... melhor...
Mais, muito mais que um livro meu.

Eu também estou a arder,
O frio é que encobre esse ardor.
-Pudera, estão zero graus lá fora.-
Mas resisto.

Não quero saber.
Vou deitar-me a teu lado
E vou colher
Nem que seja uma lágrima
-Das minhas-
Como quem te não colhe a ti
E ficar a dormir perpétuo,
Sem onirismos,
Junto a ti.

Se um dia, então,
Me vires fantasma,
Enxota-me e chama o cão.

8.
Não custa nada.
É uma sapatada entre as orelhas
Com um dos chinelos felpudos
Sobre os quais tu te arrastas
Na tua comiseração.
Pimba. Em cheio na nuca
Que de cérebros e cerebelos
Apenas ouviu falar,
Moradores, népia!
Nem uma celulazinha cinzenta;
Talvez um piolho
Que a tua mão de catadora exímia deixou passar.
Ah, não! Que digo eu?...
Tu não deixas passar nada!
Finges abrir uma aresta,
Deixas que lá metam os dedos
E tumba!
Ai tumba, tumba!
Lá vai a mão pró catano
Agarrada a um antebraço
Que leva por sua vez o inútil tum-tum cardíaco
Agarrado a si.
Catrapuz!
A cambalhota oblíqua
É queda abissal.
-Reparas?! Tomei tento na lição.
Mas entre queda abismal e abissal
Não há diferença,
É sempre a merda dum tombo.

Mas tu não, tu não cais.
Contam-se dificilmente os tombos que deste
Porque tens a couraça férrea
De quem sabe o que quer,
Tens os planos lúcidos
Da fortaleza fortuita
Onde habita a alegria eterna.
Para mim, estou farto,
Farto das minhas eternidades de momento;
Sou um gajo para além disso,
Para além dos momentos;
A minha vida é um turbilhão deles,
Uma flatulência até lá baixo,
À baixeza vil de quem consome os dias
No caixote cerebral,
Sempre crente: tudo isto é positivo!
Até a sapatada entre orelhas.

Dá-me um enxotão
Mas não me digas:
Ou publicas ou deixas de escrever.
Ah, não,
Não me venhas com ideias
Entre espadas e paredes.
Eu sou o vendaval
Que tudo destrói,
Até as fortalezas fortuitas
Dos fortes
Acovardados à vida.

Ó pá, dá um nó
E desata a vida!
Embrulha-te, narcisa
E desponta, Rosa.
E se queres saber
De ti levo pontas de alecrim
E atirá-las-ei à rua
Num dia de páscoa,
Até a ler o soneto do Pascoaes
(Lembras-te, o da Nossa Senhora dos Milagres?)
E direi ao padre que as pise
Com todo o pecado santificado
Para me redimir
Da minha verdade,
Essa que se mantém mentira.

Falar contigo
É esperar pela estocada,
Não mortífera
Que tu não és dessas,
Tu és a rapácea
Que me devora as vísceras prometeicas;
Dia a dia,
Lentamente.

Porque tu tens tempo, não é verdade?
Tu, ajoelhada perante a epiderme crustácea
Rejeitando deuses
E orando literaturas,
Orações todas muito relativas
Para que possas andar
No avança-recua.
Mas eu lixei-te, sabias,
Eu entrei-te pelo santuário adentro
E cuspi-te nas velas,
Apaguei-te por instantes a luz
Com que assustas os fantasmas
E revirei-te a gramática;
Tu ficaste cheia de medo;
Tremias que nem o Piruças,
Aquelas quatro patas às quais deste o nome de Putschi;
Raio de nome para um cão raquítico: Putschi...
Deixei de estranhar
Ao saber que ao outro chamaste Gorky.
Mas nem isso, menina,
Te manteve União;
Tu és uma Rússia desmembrada,
Dilacerada por Estalines ,
Abandonada por Trotzkis
E desmembrada pelos países
Que se querem ver livre de ti.
O teu medo, desuniu.
Soviético só o teu passado,
As tuas andanças em tempos que foste tu.
Majestosa nos fazeres
E plebeica nos agires.

Aqui, interrompes-me;
-Há hoje sovietiquices nipónicas
De consumo
Que unem desuniões-
Mandas-me um SMS (sua majestade saloia)
A criticar o beijo que não demos.

Nem isso, Rosa, nem isso
Tu guardaste de mim:
Aquele beijo fugido.
E sei
Amanhã dirás também
Que nem do cachorro me despedi.
Mas eu sei que disse adeus ao Gorki
E me despedi do Piruças,
Pois Putschi é um insulto
A qualquer valor político.

Sim, dei-te um beijo fugido,
Um beijo daqueles que se deitam fora.

E como foste rápida:
Inda nem Aveiro deixei
E já te despiste de mim.
-Não esqueças o álcool,
Aquele que desinfecta,
Não o que embriaga,
Esse é nocivo,
Esse sou eu,
Omnipotente Gengis Khan
Que arrasou tuas campinas.

Como rio a bandeiras despregadas.
Eu a chamar campinas
À aridez dos teus dias;
Nem vermes nem musgos por lá despontam,
Apenas os tamancos de acácia
Que mandas fazer no passado,
Tradicionais, pois claro,
Que não rejeitas a terra,
E que revestem os pés etéreos
Dos fantasmas que colectas.
-Devo dizer: coleccionas?-

9.
Arranca o comboio
Arranca o nariz
Arranca a língua
Arranca os dedos e os seis sentidos

E pronto

Até depois

Não não o depois do adeus

Nem aquele que tu julgas ser depois disto

Até depois o meu depois
E o meu depois é assim

E depois nunca mais nos vimos



Gafanh...oto

1.
Ôto que não seja mim,
Diria o palhaço Troca-tintas;
Ôto sim que não eu mesmo.
Ai, caraças,
Como tudo isto é fácil.
Basta um beijo de fugida
E logo vens atrás de mim.
Mas eu que há muito ando de “skate” lírico
E já não patino,
Nem sequer um volver de tola te ofereço.
Ficas na Gafanha,
Talvez à espera d “ôto”
Mas não de mim,
Pois pra mim:
-Gafanha ôto! -imperativo.
Quê já na tô pràí virado!
E agora fecundei-te.
Com esta é que te violento:
Pràí” - com acentos todos tolos.

Eu sei, é penetração em vão.
Tu estirilizaste.
As palavras para ti até já são contraceptivos.
Inda mais esta, não é verdade?
O gajo, aquele puto,
Que nem meio século tem,
Armado em milenar,
Armado em detentor dos latins,
Das erudições a que só alguns têm direito
E que até mesmo a ti foram vedadas!
-Porra, como é?!... -dizes frequentemente- Este puto vem pràqui
E julga-se Freud?
Jung ind´aceitaria
Que eu sou mais velha.
Eu é que tenho responsabilidades!
Eu é que tenho que coordenar paixões,
Dirigir a fala e o falo!
Eu é que sei! O gajo é puto!

E eu, com alma de puta,
Violentado até mais não,
Sorrio, distante, em frente ao chui.
-Mas você foi vítima ou não?

Fui vítima o caralho!
Pra vítima temos o Álvaro de Campos
E o Perestroyka.
Eu sou lúcido, pôrra! Lúcido!

Colhi de ti as carícias que desejei
E se outras te pedi
Não era eu,
Que eu não sou um pobre pedinte,
Não, não sou um Álvaro de Campos,
Eu sou o falo bocagiano
Que Sade desconheceu.
Eu fornico tudo!,
Até o buraco da garrafa da cerveja
Donde bebi alentos.

Mas agora estou cansado...
Estou “poderosamente escavado”
No mapa onde as serranias acontecem
-Nem sequer um bando de pardais
Quanto mais de árvores-
E as pedras aceradas no agrume dos ventos
Me lenham os pulsos.

Sim, um dia não te verei mais,
Esquecerei o gesto nervoso
De apertares o lábio superior
Com a tenaz de lembranças
Que geras com polegar e indicador.
Já não anteverei lágrimas
Nem te puxarei pra mim.
E nesse dia,
Talvez os meus fantasmas
Calcem tamancos
de figueira
E andem quais “poltergeistes”
A atazanarem-me o juízo.
Mas não me lembrarei de ti,
Harpia infame,
De quem fiz Parca tecedeira.

Corto-me os pedaços de Urano
E vou alimentar os peixes
Para sofrer qual eunuco
Perante o bailado de Lilith.

Vou recusar o Camões,
Não pousarei os olhos em Petrarca;
Pra me chatear o verbo
Tenho o livro de Voynich.
Eu o mago das palavras
Que “sózinho” não sabe acentuar
Nem da inexistência abismal.

Vou ler Marivaux,
Brincar ao amor
Como Esopo de “Judeu”
E se me sobrar tempo
Revisitarei os tascos do Tovim
E apanharei um pifo;
Não para te chatear,
-Pois aí já te esqueci-
Apenas pelo prazer de ouvir versos de Baco.
Antes dele que doutrem;
Antes dele que da Rosa
-Aquela dos ventos
Que nem sopra-
E da qual quem à “padaria” vai não tem dó.

És uma merda como eu.
Nem arcaboiço tens
Prá comiseração a que (a ti) te devotas.
Mas pronto, és mais velha,
Trapo desajeitado que não se aceita
(A si mesma).

Dá o tom.
Faz a regência.
Mas eu que tenho dós,
Também dos grandes,
Não danço ao rufar de tamancos de fantasmas mal-educados.
Vai pró raio que ta parta!
E se julgas que “sua majestade saloia”
Me leva a “fâquebuques” e “tuites”
Ou a outras sociabilidades de pacóvio urbano
Bem podes roer as unhas.
Quando deixar de estar farto de merda
Puxo o autoclismo.

Não, Rosa, não me venhas pela porta das traseiras
Quando me esborrachaste o apêndice probiscídeo
Com a porta principal.
O peixe e a gaivota não nidificam juntos
Por não saberem onde.
Mas eu,
Rebento bravio de cânticos negros
(Não principio nem acabo)
Faço o ninho onde me aprouver.
Nem que seja com cascaveis.

2.
Vês?! Aqui é Souselas.
Aqui amei a Cândida
Nos tempos certos de amar
Que são sempre aqueles
Em que não o sabemos fazer.

E julgas que veio alguém
Um dia pra me ensinar?

Ora, sacudo o pó e chego a Vilela.
Aqui amei a Cristina Neves,
Já com filosofias sofistas
Atravessadas com Sócrates e Platão,
Entre Exile on Main Street
E Ramones, It´s ALIVE!

Aqui amei outra vez
E pari versos traidores
Que assombraram Cristina
E a afastaram pra longe.
Mas reneguei eu os versos?...
Não! Eu reneguei foi Cristina
E todos os trens que saíam
De Coimbra pra Vilela.

Nadei no Mondego
Em baptismal devaneio
E tudo a água levou”...

Julgas-te tu, Rosa de espinhos falsos,
Capaz de me levar a tal?
Nunca!
Que o Inverno vai frio.
(Embora a minha alma arda
Dantesca
De mão na mão com os dias
Que deixei pela Gafanha).

Dou o salto, cachopa.
(Não à cachopa!)
E vou mesmo apanhar o pifo
Para ter pena de mim
Apenas pelo dia de hoje
E não pelo ontem de ontem
E por este mesmo ontem.

3.
Cá estou. Coimbra.
O aguilhão do meu fado,
As algemas das palavras
E os grilhões dos meus passos.
Não, pá, não emudeço.
Regresso ao paleio de sempre,
À conversa emparedada
De quem não tem que dizer,
Depois desmaio, pálido;
Deambulo zombiticamente
Por vielas que reneguei
Mas escreverei epitáfios;
Uns cada vez mais iguais aos outros
Até que as semelhanças os distingam.

Vou ao Mija-Cão beber um copo.
Não te convido,
não gostarias.
Até já os gostos te filtro,
Transparências opacas
Que os meus óculos devaneiam.

Pronto, cá estou eu:
Uma bifana entre(-)dentes
E um branquinho traçado.

Depois memórias antigas
Para apagar as recentes.

Vês?!... Basta uma bifana e um copo
Pra te pôr no esquecimento.

4.
Cá estou eu
Sem trazer nada de ti.
Os beijos que te dei
Fica com eles,
Que te façam bom proveito!
A mim não me servem de nada,
Nem sequer me fazem falta.
Beijos pra mim são vocábulos
E se os atiro dispersos
Não chegam sequer a ser versos.

Bom, vou-me embora
De ti, de mim
Que me tenho à minha espera.
Adeus, ó Álvaro”.

Nido e nado

1.
Até Coimbra se ri de ti, ó Gafanha.
Tu que és praia e sol devias ser,
És nuvens e frio narcísico.
Aqui o sol me beija até ao dorso libidinal.
Eh, pá.
Tenho que me orgasmizar com decência,
Há quem veja o meu prazer.
E ali defronte é a esquadra!

2.
Nido aqui,
Não nidifico que amanhã volto a partir..
Nado aqui,
Não nasço que já nasci.
-Bem sei, Rosa, é nato,
Mas nato é tão belicoso-.
Ah, percebo.
Queres uma nova contenda.
Olha vai à feira!
Com tendas há lá quem sobre.
Eu vou dormir ao relento
Que o frio não me apoquenta
Quando o riso perde o juízo.

3.
Ainda há cheiros de natal;
Uns luzidios enfeites
Teimam em me achincalhar...
A mim que estava satisfeito,
Já nem um sorriso indelével me perpassa
De bolso a bolso,
Senão
Ia chatear o Namora
E beber a tal Sagres.

Trinco entredentes o palito
Que sobrou da tal bifana
-Aquela co vinho branco-
E espero o autocarro
A recusar entoar
Lá em baixo ´inda anda gente...”

4.
É desesperante, não é verdade?
Fica uma frase periférica
Que ninguém puxa pró centro.

Medieval e leprosa,
Cheia de escorbuto patriótico.

Eu não a quero porque tenho
Já pátrias e lepras de sobra.

Tu porque tens adamastores
Que não te deixam fazer ao mar.

Salta práreia, Cowgirl!
Olha o cavalo marinho,
Doma esse potro receio.
Mostra que és terra e sal!

Sal---ta, moça, salta!
Como quem leu D. Dinis
E conhece toda a regra
De cavalgar toda a sela.

Pfff... professora linguística
-Devo dizer linguareira?-
Uma garoupa feita parga
Que nem pra linguado serve.

Olha, vou eu!,
Montar a cavala bravia,
Morder o rabo à pescada,
Atazanar o chicharro
E em grande caldeirada
Festejo com uma estrelinha
Que solha... Não apanhes!

Esta da solha é pra te furar os ovários.
Desova-te se te amanhares
Dessa tarefa escamosa.
E depois deita isto fora.



Epífaro ou epífico
ou pifo sem relação.


1.
Ó Baco, ó parvo
Que tão cedo morreste
E neste estado me deixaste.
Ainda bem que morreste
Senão hoje morrerias
Entre o meu pifo de adeus
E palavreadas orgias.

Ó Baco, ó parvo,
Nem sequer me embebedaste.
Se é esta divina casta,
Antes aguardente decente
Não de deuses mas de gente.

Ó Vénus, Afrodite mascarada,
Nem pra Fátimas tens jeito;
Não sabes mostrar-te aos meninos?
Olha pra mim tão cupido,
Tão fugido da estatura
Do meio século que me molda,
Tão a pedir um afago.
(Olhà velha descarada
A querer dar-me um açoite!)





Bonus Traque
(ou flatulência extra)


Poema por encomenda

Respondo solenemente
Ao apelo excelentíssimo
De Vossa Senhoria.

Nesta minha missiva,
Aqui presente,
Cá declaro:

O raio que ta parta,
Ò língua desusada!
Meretriz de sexo oral,
Aventureira nas frases
E vulgar nas expressões.

Só tramas! Nem lixas
Quanto mais fornicas!

Ao redor do hemiciclo sanzonal
Em que repúblicas se beijam,
Idolatram e financiam,
Os poetas, já calvos de palavras
E áridos de sentenças,
São correspondentes da “press”
Num “part-time” poético.
Lá sai um verso ou outro,
-Pela porta das traseiras,-
Encapuçado num bocejo
Que a bica não esquenta.

De políticas, nada!
Basta o Alegre e o outro,
Sim, e essoutro também...

Recordo-me perfeitamente
De exílios e desejos,
De ódios e de revoltas
E de palavras tão tristes
Que a própria tristeza se some
Nas sombras da sua tónica.

Sua senhoria, perdoe.
Esta lágrima não é sal,
É açúcar!
Pois o meu chorar é doce,
Choro por estar contente;
Pois os poetas que eu li
Foram poetas no todo
E não os senhores da “press”.
Que até já a “caminho”
Põe nas suas prateleiras.

As armas -assinaladas,
Não as com canto-
Os decassílabos e as septatónicas,
Os motes e as glosas,
As voltas e as redondilhas
E a puta que vos pariu!

De novo peço perdão.
Não intentei ser vernáculo
Nem insultar vossa mãe.
Mas, Excelência, notai:

Já reparásteis que Aleixo
Não tem outro que se compare?
Será por falta de doutos
Ou por excesso de tais?

Que parâmetros haveis pensado
Para os poetas com tempo (râneos)?
Já tudo foi encaixilhado,
Tudo tem a sua moldura!

Só eu, (e aqueles que se encolhem
Nas trevas da solidão)
Não tenho nem prateleira
Nem ficheiro electrónico,
Quanto mais um excertozito
Nos almanaques escolares!...

Não me peçais um livro.
Aí, dar-lhe-ei na tola com ele;
Com as obras completas
-Num volume compacto e único-
Do velho Nando Pessoa,
Aquele compincha da bica,
Do cigarro e da tristeza.

Mas para além disso que mais?

Nada!

O essoutro -o Manoel de Oliveira*
Que me escreveu vistas na vista,-
Esse ninguém conhece.
Nem o Sena, nem o Ary,
Nem Pessoa -o Joaquim!

E vós, Eminência, pedis
Um livro cá do “eu”?,
Do desastrado rural
Da parvalheira bairrosa
Inda que da Lusa-Atena?

Que esperais vós de mim?

Umas burlescas
Ou pretendei-las eróticas?...
Uns carramanhos cabeçudos
Que façam rir as senhoras
-E aquele senhor também,
O de anel grandão-?

Pra isso em qualquer tasco
Ouvireis grandes poetas.

Eminência atentai:

O sino chateia-me infinitos;
Aquando a igreja aberta
Sufoco, falta-me o ar;
Portanto de liturgias,
Nem um flato.
A não ser que vós queirais
Poemas de confissão.

»Perdoai, senhor, pequei.
Dei ´ma tal cambalhota,
Em cama alheia acordei.
Ai, Deus, estivera eu morta.«

Ora tomai lá o Auto!
O da Índia, bem sabeis,
Do mestre que soube unir
O teatro à poesia.

Queirais acaso bucólicas,
Regionalistas sonetos
Ou urbanas discrepâncias
Chamadas neo-nem-sei-o-quê?
Tudo bem, ò majestade.
Vou à sanita e já volto,
Nem o rabo limparei,
Para melhor resumir
Os poemas que quereis.


(E pronto, Rosa, obrigado pela ins/expiração ;) )

*Na verdade cometi um crime de lesa-majestade no original ao escrever aqui Manuel de Oliveira, pois eu queria-me referir ao Manuel da Fonsaca-Ele que me perdoe!-.

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