domingo, 6 de fevereiro de 2011

Enforcamento em mi bordão



Com mi bordão
autopsiado
corte na garganta
teu último canto
asfixiado
tangeste a sexta
com o peso do teu corpo

As raparigas
tiveram soluços e lágrimas
mas não o choro
de “Dulcineias”

Pendulaste o ritmo
por minutos
assim contados
e foste sem o amor que despertavas

Levaste
o corpo balofo
e as mãos crispadas
num derradeiro acorde
-sem poderes jamais acordar-

Vi a pedra tumular
nada diz
sequer
Amigo, maior que o pensamento...”

Levei-te um cravo
arrepanhado murcho
no monte que ninguém quer

Foi Abril
quase Maio
por sobre a mesa
Sá Carneiro
e o “livro em branco”
aquele em que eu escrevia
aberto
esventrado
no poema

Embala-me
embala-te
leva-me contigo
que mortes não há
tua voz é vida e gestação
adormecem noites dedilhadas...”

Hoje queimei teus restos
incinerei o caderno
e vadiada a noite
visitei teu túmulo
mortes há, amigo, mortes houve

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