1.
Jamais poderás impedir que sonhe,
Nem sei sequer se o desejas;
Pior que isso é jamais poderes impedir que pense
As catadupas de coisas que em torrente laminada
Dilaceram as horas em raivas e dores de serem raivas,
A avalanche trovejante de ignóbeis memórias que nem são minhas
Mas apenas pressupostos do que serão as tuas.
Não, jamais poderás evitar que pense.
Assim, és enxaqueca quando o faço.
2.
Penso, já que o espaço concebido é propício.
Penso, já que a tua mão cala o afago.
Penso, porque os teus lábios nem um beijo sussurram.
Penso, porque os teus olhos emudecem perante os meus.
Penso que então pensas o que eu nem quero pensar.
3.
Quando ao deitar os lábios ao fresco
Sob o quente do verão à beira,
Um leve odor a suspeita sudorífera
Que metabolismos neuróticos em mim plantam,
Assoma traiçoeiro,
Bebo trago mais longo…
Como se assim apagasse a memória.
Nem a dentada nervosa no tremoço
Acalma odores dérmicos indesejados.
Cheiro mal do corpo todo
Como um Dantas dos pés
E bebo, por distracção…
E acordando meus lábios já refrescados
Lembro canções e sussurro-as.
Deito-me à beira do verão,
Suado e mal cheiroso
Mas livre de pensamentos.
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