Pisam-me as palavras os pensamentos mais lúcidos
E atropelado na incandescente raiva da impossibilidade,
Tolhido na língua e nos olhos, nas coisas doces
Que existem para serem sussurradas aos ouvidos,
Gero dúvidas sobre os lábios balbuciantes.
Decepo as cordas vocais. Adeus. Para até mais ver...
No encurtar da distância nos separámos.
Nem sequer a humidade dos lábios me impede de pensar seco
O idioma destoa-me nasalmente e peno e peco
Sem saber onde assentar os pés de fado
As mãos vadias. Quero o teu corpo mais que o meu
Mas muito mais o meu com o teu.
E vim-me e vou-me embora.
É o turbilhão de palavras
que se desmultiplica na mente
explode e implode, eclode nas fissuras do racional
e propaga-se incoerente nas memórias humilhadas
nos recalcamentos mais longínquos
como se ontem constasse de arrependimentos
e o hoje fosse purgatório dos dias idos e vindouros.
Um rebentar de foguetes, um cruzar de cometas
num infinito gráfico em metralhar tipógrafo;
dói. A cabeça prestes a rebentar
e os dedos reumáticos, lesmas, a quererem acompanhar o relâmpago,
apenas trovão,
estrondo posterior.
Mordo-me a língua e asfixio o peito,
sacudo-me acima dos ombros
e, por muito que as palavras caiam em catadupa,
um labirinto delas teima em chicotear ideias,
rasgam-nas horizontal, vertical, diagonalmente;
trucidam-nas, e procriam-nas;
neologismos avançam como se todas as enciclopédias do mundo
não tivessem palavras bastantes ou palavras que chegassem...
Não é invenção minha,
eu nada invento,
do minúsculo pontinho do horizonte da razão
nada me chega e nem o serenal ajuda,
eu sou o além do verbo e o aquém do verso;
nem prosa tenho;
sou carcereiro de desejos que a musa impele
e incapaz de distinguir liras de flautas
nem castigo mereço...
não penso em suicídio,
as palavras encarregam-se disso,
de me suicidar na lentidão com que escrevo
sem conseguir abarcar-lhes sentido;
elas serão o ópio que não tomo e a cicuta que não bebo.